domingo, 17 de novembro de 2024

Impressionismo nocturno

Vivo num silêncio incompleto, carregado de palavras que não é tempo de dizer; espero a construção de uma catedral de silêncio perfeito e imenso, que há de inundar tudo e inaugurar a escrita. Até lá procuro a noite à beira da falésia, o ruído do mar sob o Cisne como um barco em que hei-de embarcar, e as minhas palavras não pertencem aos amigos, aos convivas, mas à escrita concretizada nessas grandes marés. Ou só ao espaço imperfeito e quotidiano onde a escrita se constrói ainda que não se realize. Ainda que fique aí, numa espera onde só de muito em muito tempo se avistam os outros lugares, será uma realização fulgurante da minha vida, de resto alheia e distraída entre os comensais, sempre demasiado longe do mar que ruge às duas da manhã.

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