Uma noite sonhei que os meus sublinhados, notas apressadas, bocados náufragos de papel a marcar páginas, tinham desaparecido, e chorei porque os meus livros já não eram meus. Perdi tantas provas de vida, tanto conforto e reconhecimento que tinha acumulado para futuras noites de Inverno, nessa deserção da minha história à minha vida, mas os meus livros choraram comigo, e as suas lágrimas salvaram-me. Reconstruí as notas e os papéis com amor e paciência, ao longo de anos, sobrevivendo à catástrofe no trabalho do reencontro. Ficámos, eu e os meus livros, um pouco mais tristes, um pouco mais velhos, mas sobrevivemos; e eles nem me levaram a mal ter sido eu quem lhes calhou em sorte.
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