Foi, juntamente com Francesca Woodman, uma das minhas maiores inspirações quando comecei com esta coisa dos auto-retratos. Ainda este fim de semana pensava que tinha de voltar às brincadeiras com séries e iterações, que gostava tanto de explorar e que deixei para trás, nem sei bem porquê.
E como se não bastasse o seu trabalho extraordinário, nunca li uma entrevista dela que não me deixasse a sorrir, e ainda mais quando falava da cumplicidade com o marido, e da forma como ele a ajudava na parte prática das fotografias; como alguém que ainda hoje só consegue brincar aos auto-retratos com a porta do quarto fechada, a Helena Almeida ensinou-me uma coisa ou duas acerca da confiança e da vulnerabilidade, da liberdade e do sentido de jogo. Obrigada.
***
Às vezes parece que há um diferendo entre aquilo que pensou e aquilo que os críticos vêem nas suas obras.
O que eles vêem no meu trabalho muitas vezes não coincide absolutamente nada com o que quero e outras vezes coincide e ultrapassa.
A Isabel Carlos falava num acto sacrificial perante o altar de Veneza...
Mas não era. É uma obra aberta.
Mas se a Helena não fala do seu trabalho, é normal que cada um o interprete a seu modo...
Sim, mas se não falo é porque não sei. Acho que era amor ao atelier. ...Era amor ao meu pai por ter trabalhado aqui, por eu estar a trabalhar aqui."
(...)
Quando o seu marido entra nos seus trabalhos o que nos está a querer dizer?
Naquela imagem do banco, o banco é pequenino. Estamos agarrados um ao outro de uma maneira desesperada. É como se houvesse um buraco negro à nossa volta. É mesmo um buraco negro.
Sentia isso?
Sentia necessidade de o fazer, porque um de nós vais morrer antes. ["O quê?", pergunta Artur Rosa.] Nada! ["Um de nós o quê?", insiste Artur Rosa.] Um de nós vai COMER antes! Era esse o sentido. E é isso que lá está. O banco é estreito. É muito estreitinho."
(excertos de uma entrevista ao Expresso, a 8 de Outubro de 2016)
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