A minha personalidade é composta, em parte significativa, por pares de contrários, cujos termos me são igualmente necessários. Ao contrário do que se poderia imaginar, os problemas não chegam pela difícil convivência dos opostos, mas quando, por algum motivo, me convenço de que tenho a obrigação de os aplanar, ou de escolher um dos lados. Ainda está para chegar o dia em que a média do que quer que seja me traga alegria, e tentá-lo é uma quadratura do círculo muito mais esgotante e estéril que a vivência quotidiana com desejos, pulsões ou medos que puxam para lados opostos. Até porque renegar um dos termos, em vez de trazer paz de espírito, traz também a destruição do outro termo - e a minha.
Obviamente os lados cruzam-se, conversam, contagiam-se, e é nessa intersecção que estão os frutos. Mas para que isso aconteça preciso de olhar ao espelho e ver as arestas límpidas e definidas de cada lado, teimosas contra a massa amorfa da mediania, e dos terrenos aplanados pelas tentações do sossego e da compreensão dos outros.
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