Desconfio instintivamente das dinâmicas de grupo. Os consensos instantâneos e incontestados parecem-me quase sempre um veículo eficaz para espalhar a falta de sentido crítico e, à sua boleia, o conformismo; e essa falta de sentido crítico tem tendência a ser tanto maior quanto mais os elementos do grupo acreditam estar imunes a essa possibilidade e protegidos pela sua própria inteligência. Até um bicho do mato como eu tem necessidade de pertença, e estas minhas reticências deixam-me muitas vezes mais isolada do que gostaria. Mas depois há momentos em que vejo uma multidão a tentar apagar fogos com gasolina, que recebeu das mãos de alguém. Ninguém se lembra de olhar para o balde antes de o passar em frente, e eu tenho dificuldade em não ceder à tentação de encolher os ombros e afastar-me para onde as brasas não cheguem.
Nos seminários de História Moderna e Contemporânea do meu mestrado, as narrativas sobre a modernidade eram geralmente enquadradas na transformação fundamental de uma sociedade comunitária para uma sociedade individualista, e no que isso tivera tanto de libertador como de trágico. Os meus professores, e os autores que li, têm um grande sentido crítico, e as suas leituras dos acontecimentos pareceram-me bastante certeiras e límpidas. Mas creio que a sua análise já não descreve justamente os dias de hoje, e que estamos a caminhar para uma era intrinsecamente social; diferente da era pré-moderna, porque em vez de a validação pessoal ser dada pela religião, tradição e comunidades, é procurada nos consensos instantâneos que o indivíduo espera obter com performances públicas. Não é um retorno à era pré-moderna: social e comunitário não são necessariamente a mesma coisa, e a performance não é um acto, é uma aparência de acto.
Quanto ao episódio oh-tão-radical do Conan Osíris a dançar numa igreja, lembro-me de um festival de Verão, há muitos anos, em que um amigo meu achou que as t-shirts da moda desse ano, com o rosto de Cristo e a frase "kill your idols", eram a coisa mais radical e iconoclasta que já se tinha inventado. "Concordas com essa ideia?" Respondeu-me que claro que sim. "E Cristo é um ídolo teu?" Claro que não. "Então a t-shirt não devia ter uma imagem de um ídolo teu? Ou estás isento do que prescreves aos outros?" O meu amigo não comprou a t-shirt, e não me falou o resto da tarde. Nada de novo debaixo do sol.
Sem comentários:
Enviar um comentário