O inesperado / indómito que entra pelas nossas construções e certezas dentro. Faz soar os alarmes e o maravilhamento. No meu imaginário pessoal, remete-me tanto para certas capelas rústicas e vazias, perdidas nos ermos, como para o Espírito da Floresta da Princesa Mononoke. Quando irrompe pelas igrejas, pela arte, pela natureza, pelo êxtase, pelo sofrimento, não deixa muito de pé: nem as instituições que se deixaram esvaziar de significado, nem as revoluções de trazer por casa. São ambas caricaturas tristes do espírito.
domingo, 24 de janeiro de 2021
segunda-feira, 18 de janeiro de 2021
Notas de um bicho do mato
I.
“All of us have to learn how to invent our lives, make them up, imagine them. We need to be taught these skills; we need guides to show us how. If we don’t, our lives get made up for us by other people.”
II.
“To know yourself means, above all, to know your desire. Desires are what lurk at the heart of our behavior. It’s what determines our motivations. It’s what organizes our social relations. It’s what informs our politics, religions, ideologies, and above all, our conflicts.” ... Girard began his work in the 1960s with a new concept of human desire: our desires are not our own, he said, we are social creatures, and we learn what to want from each other."
III.
"Difficult women aren’t all swashbuckling extroverts who shoot off their mouths and shout down their adversaries. Sometimes they just sit quietly and refuse to pretend to be agreeable… So genteel, yet so impressively difficult."
IV.
"Repentance keeps my heart impure."
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I. The Wave in the Mind, Ursula K. Le Guin
II. Na página da entrevista a René Girard, no programa "Entitled Opinions". Disponível aqui.
III. In Praise of Difficult Women, Karen Karbo
IV. Stream and Sun at Glendalough (excerto), W.B. Yeats
Gasolina & t-shirts
Desconfio instintivamente das dinâmicas de grupo. Os consensos instantâneos e incontestados parecem-me quase sempre um veículo eficaz para espalhar a falta de sentido crítico e, à sua boleia, o conformismo; e essa falta de sentido crítico tem tendência a ser tanto maior quanto mais os elementos do grupo acreditam estar imunes a essa possibilidade e protegidos pela sua própria inteligência. Até um bicho do mato como eu tem necessidade de pertença, e estas minhas reticências deixam-me muitas vezes mais isolada do que gostaria. Mas depois há momentos em que vejo uma multidão a tentar apagar fogos com gasolina, que recebeu das mãos de alguém. Ninguém se lembra de olhar para o balde antes de o passar em frente, e eu tenho dificuldade em não ceder à tentação de encolher os ombros e afastar-me para onde as brasas não cheguem.
Nos seminários de História Moderna e Contemporânea do meu mestrado, as narrativas sobre a modernidade eram geralmente enquadradas na transformação fundamental de uma sociedade comunitária para uma sociedade individualista, e no que isso tivera tanto de libertador como de trágico. Os meus professores, e os autores que li, têm um grande sentido crítico, e as suas leituras dos acontecimentos pareceram-me bastante certeiras e límpidas. Mas creio que a sua análise já não descreve justamente os dias de hoje, e que estamos a caminhar para uma era intrinsecamente social; diferente da era pré-moderna, porque em vez de a validação pessoal ser dada pela religião, tradição e comunidades, é procurada nos consensos instantâneos que o indivíduo espera obter com performances públicas. Não é um retorno à era pré-moderna: social e comunitário não são necessariamente a mesma coisa, e a performance não é um acto, é uma aparência de acto.
Quanto ao episódio oh-tão-radical do Conan Osíris a dançar numa igreja, lembro-me de um festival de Verão, há muitos anos, em que um amigo meu achou que as t-shirts da moda desse ano, com o rosto de Cristo e a frase "kill your idols", eram a coisa mais radical e iconoclasta que já se tinha inventado. "Concordas com essa ideia?" Respondeu-me que claro que sim. "E Cristo é um ídolo teu?" Claro que não. "Então a t-shirt não devia ter uma imagem de um ídolo teu? Ou estás isento do que prescreves aos outros?" O meu amigo não comprou a t-shirt, e não me falou o resto da tarde. Nada de novo debaixo do sol.
terça-feira, 5 de janeiro de 2021
Trinta e sete
Hoje descobri que partilho o meu dia de anos com o Hayao Miyazaki, que admiro muito. Será um fait-divers, mas foi mais um pequeno facto feliz num dia sereno e solarengo, em que passeei ao sol, descobri um alfarrabista barato e com uma boa selecção, e comprei as primeiras flores do ano. Se há coisa que o ano passado me ensinou é que prognósticos, só no fim do jogo, mas foi um bom começo, e por hoje isso chega.
sexta-feira, 1 de janeiro de 2021
Balanço
Balanço pessoal de 2020: "agora a minha solidão vê-se melhor." Por outro lado, neste espaço tão vasto também se vêem melhor as estrelas. Vazio e luz, portanto. Como sempre.
© Inês C. | 2020
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