terça-feira, 31 de maio de 2016

Santa Catarina

Lisboa | Maio 2016


Volto a ser capaz de ver, e percebo que nem me importo se o meu olhar é sancionado pelos outros ou não. Um dia encontrei ideias, um modo de estar que me permitia movimentar-me no mundo com mais à vontade, não viver presa nas minhas ansiedades e incapacidade, e agarrei-me a isso, vivi-o, fiz por fazê-lo crescer e chegar mais longe. Isso esteve parado durante muitos anos. Agora é hora de regressar.
E assim volto a percorrer as ruas de Lisboa, a enfiar-me por vielas onde vejo o que mais ninguém vê, e de onde saio mais saciada de beleza. Ando sem parar, mais feliz quanto mais doerem as pernas e se aproximar o entardecer. Ao final da tarde procuro a luz sobre o rio, no Cais das Colunas, ou acabo em Santa Catarina, anónima entre aqueles grupos com os quais não tenho muito em comum, mas onde me sinto bem em passar despercebida.
Reconheço finalmente as minhas narrativas e as minhas buscas.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

sábado, 14 de maio de 2016

Raízes imaginárias

© Inês C. | Maio 2016

Raízes imaginárias

Lisboa | Maio 2016

Cidade

Percorres devagar as ruas de Lisboa, procuras algo novo, por vergonha de admitir que desejarias apenas a permanência das coisas que um dia te deram de beber. Procuras poetas novos que te validem, mas eles apenas provam a tua insuficiência, mesmo agora que reencontraste os teus Sinais.
Podes convencer-te que este texto é apenas treino, e que portanto não faz mal que seja mau, podes andar pelas ruas da Cidade e encontrar até algo que te sossegue. Só não podes voltar a Casa.

Porque ela nunca foi tua
Porque ela se perdeu
Porque ela já não existe
Porque ela nunca existiu
Porque não a tens.

Lá fora chove cá dentro escrevo

Lisbon & books
© Inês C. | Maio 2016

Lá fora chove cá dentro leio

it's still raining, I'm still reading
© Inês C. | Maio 2016

sábado, 7 de maio de 2016

Lá fora chove

  Hoje fui ao médico. Estava no consultório quando começou a chover, e o cenário do lado de lá da janela emprestava definição ao lado de dentro, tornava as coisas e as conversas mais quentes e habitadas. Sempre gostei daqueles prédios antigos de tectos altos e cheios de frisos, das janelas compridas com vidraças e varandins, do ranger da madeira no soalho e nas escadas. Toda a casa parece viva e os sons, as madeiras a estalar e até as fissuras na tinta velha são como um respirar.
   Esta tarde, com a chuva lá fora a ressoar nos telhados da Sé, pareceu-me que os dois lados da janela se validavam um ao outro. Eu existi para ver a chuva cair, para revestir de dignidade as casas velhas, as árvores mudas e a calçada, para devolver poesia à rua um pouco triste. E a chuva caiu para que eu não me perdesse. O Outono desassossegou as pessoas na rua para que, no lado de dentro da casa, eu não perdesse o meu lugar interior e não perdesse a minha união com as coisas. Houve um espelho nas poças e nas gotas que caíam dos beirais onde os pombos se abrigavam, para que eu fosse clara como água e o mundo transparente ao meu olhar.
  Chamaram-me para ser atendida e quebrou-se o encantamento, mas a chuva ficou. E só quando parou é que me lembrei que não tinha guarda-chuva.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

domingo, 1 de maio de 2016