terça-feira, 16 de dezembro de 2025

“The Italian word borgata derives from borgo, ‘village’, though it has come to mean an area of a city that has spilled into the countryside, neither rural nor urban, but a midway zone of council tenements and meadow scrubland, sometimes blighted by crime.”

Ian Thomson, “Pasolini’s Rome” (Engelsberg Ideas, 2025.11.20)


E novamente o penso: para ver o contexto em que nasci merecer tratamento artístico, tenho de recorrer aos italianos. Relembro a experiência de ver o Deserto Rosso pela primeira vez: por um lado o murro no estômago, o regresso forçado a um lugar do qual às vezes ainda sentimos, os cinco lá de casa, que temos de fazer um esforço para fugir, apesar de termos saído há quase trinta anos. Por outro lado, a ideia inesperada de lugares como aquele também merecerem o olhar de alguém.
O tipo de lugar que a intelligentsia portuguesa, sempre de povo na boca, se esforça muito para fingir que não existe. Há pobrezas que são nobres, como a do Alentejo, e pobrezas que são uma culpa moral, como a dos Beirões e Alentejanos sem terra, perdidos na borgata: essa terra de ninguém tão bem descrita aqui, por um tipo Inglês a falar de um tipo Italiano para a revista de uma instituição Sueca. Esse tipo Italiano que a intelligentsia portuguesa ama com amor desmedido, enquanto mantém uma distância higiénica de tudo o que o interessou e comoveu.

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