A poesia passeia pela Feira do Livro mas não se demora. Retira-se em silêncio quando o homem desempregado baixa os olhos de vergonha, na banca da editora intelectual e alternativa cujos livros aparecem bem cotados todos os fins-de-semana nos suplementos culturais dos jornais de boa estirpe, porque demorou tanto tempo e afinal só compra um livro, dividido e humilhado entre os tantos que gostava de levar, enquanto o livreiro chiquemente alternativo o olha com desprezo, como se morar na margem certa e citar Pasolini onde o ouçam fosse razão suficiente para a altivez burguesa com que olha o homem que cheira a Cruz-de-Pau, a callcenter, a Fertagus ou Soflusa. Ou talvez só então apareça, mas não onde a anunciam; segue no bolso do homem desempregado, nos seus olhos baixos que se iluminam no barco ou no comboio, longe da feira, quando abre o livro novo no colo.
Sem comentários:
Enviar um comentário