O Museu Geológico, em Lisboa, não está só velho, está claramente abandonado, e é pena. Por outro lado isso transforma espaços como este numa espécie de máquinas do tempo, em que o próprio museu, mesmo quando não é arquitectonicamente relevante, acaba por ter uma história para contar. Tendo em conta que o espólio museológico português não é impressionante, seja em que área for, poderia ser interessante assumir este aspecto de "máquinas do tempo" dos nossos pequenos museus, e criar histórias e roteiros à volta disso. Talvez o Museu Geológico não seja impressionante, mas imagino bem um roteiro que una pequenos museus lisboetas, Museu Geológico - Museu da Sociedade de Geografia de Lisboa - Museu Arqueológico do Carmo, por exemplo. Dava pelo menos um belo passeio.
E eu gosto de espaços assim, mesmo quando têm mais pó que visitantes. Gosto da sensação de ter escapado para um interstício entre tempos e entre pessoas; gosto de de trazer à vida com o meu interesse um espaço adormecido; gosto de passear sozinha e com vagar, sem tropeçar em turistas em modo automático; gosto do ar meio atrapalhado, meio cúmplice, entre os poucos visitantes; acho que até gosto do ar vagamente espantado dos funcionários, quando alguém aparece.
E embora tenha pena de que isso só aconteça por esquecimento e não por haver um plano, uma ideia, gosto que estes museus escapem à burocratização e funcionalismo que pensa que ajudar espaços antigos a falar à contemporaneidade é despi-los de qualquer traço de personalidade, e substituir tudo por uma arquitectura funcional e fria, e mobiliário que parece saído de um escritório de repartição pública numa cave em 1984. Mas também acho que, com a minha pancada pelas coisas antigas, tenho de ter sentido crítico e perguntar se às vezes não corro o risco de romantizar o antigo. A antiguidade não é critério suficiente para elevar o que quer que seja ao estatuto de "clássico", e se a novidade por si só não é um valor, a antiguidade também não. E no caso do Museu Geológico é claro que há muito trabalho por fazer para levar o espaço a encontrar os seus visitantes. O Museu da Sociedade de Geografia (que já mostrei aqui, aqui e aqui) lançou-se a esse desafio, e conseguiu superá-lo - com algo tão simples como fazer todas as visitas com guia.
Ainda assim, onde fica a linha entre o respeito pelo testemunho e o imobilismo? E entre uma voz que faça sentido para o momento presente e a descaracterização? A minha resposta tende a ser intuitiva ("eu sei onde fica a linha quando a vejo ultrapassada"), e isso não me satisfaz. Acho que tenho de ir ler: há já bastante tempo que tenho na minha lista o ensaio sobre os clássicos do Italo Calvino e muita coisa do Roger Scruton; para equilibrar as coisas, talvez devesse procurar também uns bons iconoclastas. Até lá passeio pelos museus vazios e aceito a minha opinião instintiva: enquanto estes lugares tiverem um testemunho para dar não precisam de ser reinventados, precisam de ser redescobertos. E de alguém com uma ideia, que os ajude a redescobrir a sua voz. (E que saudades de poder realmente passear em museus. Vai ser um Inverno tão longo.)