atravesso para o outro lado."
Eu conheço-me apenas de vista
com a imprecisão de um reflexo
numa montra, com a perplexidade
de quem enfrenta um espelho hostil
numa noite de insónia.
Estranho-me a cada amigo
que se perdeu ou que perdi
a cada traço de alegria
a que renunciei
por cansaço ou sofreguidão
e mesmo nas fotografias mais felizes
em que mais quero acreditar
que ainda sou eu, não sei se sou
Sure enemies haunt you
with spit and derision
but friends are the ones
who can put you in exile
canta o trovador do desencanto
que se lava em euforias tristes
e cada amigo que se perde
é um espelho com o qual
se quebrou uma aliança
São névoa e cacos
a minha obsessão com a biografia
a loucura com que acredito
que efabular-me
me pode salvar do mundo
do meu medo do mundo
Resta-me então a viagem
que talvez não chegue mas ajuda
e a generosidade inesperada
de quem me acena do outro lado do rio
à beira do qual todos esperamos
um sinal, um vento favorável,
ou simplesmente o som da água que corre
quando já desistimos de caminhar
Sozinha num comboio sento-me
de frente para a paisagem
até o meu rosto se fundir com o seu
e é aí que me reconheço
e nos meus olhos parece haver ainda
um rasgo do riso que nos libertou
do paraíso e da perfeição
Pouso na mesinha do comboio
a máquina fotográfica
a primeira caneta que o meu pai me deu
(ou que lhe roubei, e ele sorriu)
o pequeno desenho feito à mão
que alguém me ofereceu
E acredito que se me cruzar comigo
fotografando as ruas desta cidade antiga
talvez pense "eu conheço esta cara"
e lhe sorria, e isso chegue.
(Com um abraço para a Patrícia, claro.)
Oh meu deus <3
ResponderEliminar(que coisa mais linda; e obrigada por existires)
Oh... Obrigada, um abraço!*
ResponderEliminarTão bom isto.
ResponderEliminarObrigada, Rita! Um abraço*
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