"Contrariando uma tendência de anos recentes, exemplificável com  algumas traduções de Homero feitas por Frederico Lourenço, optou por uma  tradução e por uma edição ostensivamente eruditas. Porquê?
 
(...) Mas permita-me que conteste a sua ideia de uma tendência  recente, tal como a descreve. Estou inclinado a supor que essa tendência  pertence mais ao foco mediático do que aos factos. Acabei de ler, por  exemplo, uma edição recente, da Gulbenkian, dos Textos da Literatura Egípcia do Império Médio,  da autoria de Telo Ferreira Canhão, e recordo como exemplo de como ler e  editar um texto a edição dos professores Mário Jorge de Carvalho e Nuno  Ferro do maravilhoso texto de Kierkegaard, Adquirir a sua Alma na Paciência, na Assírio & Alvim.
São traduções eruditas, no sentido que evoca, e relativamente  recentes; apesar de extraordinárias, e de se aprender mais com elas do  que com um trimestre inteiro de edição industrial, creio que nenhuma  delas mereceu qualquer menção na crítica impressa. Espero entretanto que  a tendência de que fala não resulte na depreciação do que é "erudito".  Embora não tenha um amor excessivo a essa palavra, assinalo que certos  textos, para se revelarem, precisam de uma conversa prévia ou periférica  e de alguém que se coloque em situação de iniciá-la. Eu, por exemplo,  ainda hoje não sei que canção cantaram as sereias a Ulisses e bem  gostaria que houvesse alguém a dizer-mo."
Francisco Luís Parreira, em entrevista ao Ípsilon acerca da sua tradução para Português do Gilgamesh (02.06.2017)