Ter casa no infinito,
no conhecimento instintivo
das imagens iniciais em que o sentido
antecede a explicação,
e não ter medo da beleza
que homens sábios e tolos
dizem ser terrível,
proíbe uma casa confortável
na linguagem.
Poucas distâncias serão
tão longas como a que vai
do corpo no mar ou no fogo
à língua encerada dos homens,
desaguada nestes séculos XX e XXI.
Descobri que “fogo grego”
não é o nome original dessa
substância de clarão e mito,
a que os Bizantinos
chamavam, entre outras coisas,
pŷr thalássion, fogo do mar.
É disto que falo, de uma civilização
que acredita nas possibilidades da poesia,
apesar de nenhuma derivação explicativa
poder ser mais iluminante, mais bela,
mais justa, que dizer “fogo marítimo”
e deixar, depois, que o silêncio reine.
E no entanto também eu defendo
este abrigo com devoção e fúria,
esta arquitectura de labirintos e clarões
alicerçada na pulsão dos desejos
e no desejo sensível da lucidez,
e não sei que fazer da suspeita
de que, por vezes, a linguagem
é uma traição às imagens que
primeiro fundaram o instinto poético,
um vício de excesso interpretativo,
uma danação de espelhos.
E no entanto também eu procuro
a textura áspera e consoladora
sob a mão que desliza no papel;
tão real como o fogo ou o mar
que não sei se assim traio ou repercuto
nos ossos, na pele, no instinto
desse mundo inicial que não sei
se me pede silêncio ou iluminação.
no conhecimento instintivo
das imagens iniciais em que o sentido
antecede a explicação,
e não ter medo da beleza
que homens sábios e tolos
dizem ser terrível,
proíbe uma casa confortável
na linguagem.
Poucas distâncias serão
tão longas como a que vai
do corpo no mar ou no fogo
à língua encerada dos homens,
desaguada nestes séculos XX e XXI.
Descobri que “fogo grego”
não é o nome original dessa
substância de clarão e mito,
a que os Bizantinos
chamavam, entre outras coisas,
pŷr thalássion, fogo do mar.
É disto que falo, de uma civilização
que acredita nas possibilidades da poesia,
apesar de nenhuma derivação explicativa
poder ser mais iluminante, mais bela,
mais justa, que dizer “fogo marítimo”
e deixar, depois, que o silêncio reine.
E no entanto também eu defendo
este abrigo com devoção e fúria,
esta arquitectura de labirintos e clarões
alicerçada na pulsão dos desejos
e no desejo sensível da lucidez,
e não sei que fazer da suspeita
de que, por vezes, a linguagem
é uma traição às imagens que
primeiro fundaram o instinto poético,
um vício de excesso interpretativo,
uma danação de espelhos.
E no entanto também eu procuro
a textura áspera e consoladora
sob a mão que desliza no papel;
tão real como o fogo ou o mar
que não sei se assim traio ou repercuto
nos ossos, na pele, no instinto
desse mundo inicial que não sei
se me pede silêncio ou iluminação.
Não saber, Inês, é o passo inicial ou o passo final? Silêncio e iluminação, não dois propósitos de ter casa no infinito?
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