A minha Serra do Louro ardeu. A serra dos passeios com os meus pais, das caminhadas de fim de tarde de Verão com a luz mais bonita e dourada, a serra dos burros a que fazia sempre festas, a serra das conversas com os amigos até às tantas da manhã, a serra do café no vale onde passei tardes de Verão a ler as Cosmicómicas do Calvino, e as tardes de Inverno a escrever com um café com natas ou um chá de especiarias e um gato cor de fumo no colo. A serra onde ia todos os anos, no fim de Janeiro, para ver as primeiras árvores em flor, minhas irmãs. E a lista dos lugares que são casa nunca pára de encolher, sem que nada novo surja no lugar dos lugares que se perdem, nada que possa medrar, que eu tenha a possibilidade de seguir. Estou cansada de perder todos os recantos em que fiz ninhos onde deixei guardados bocados do coração. Vivo bem sem pessoas, sem lugares estou perdida.
Lamentável, Inês, mas deu um texto bonito, mais um. Calvino sob as árvores e um gato ao colo dão cabo de mim. E contudo a minha história é bem diferente: não tenho memórias dessas, sítios saudosos do passado, todos os meus sítios tive que os procurar e construir eu, já adulto. A minha memória mais parecida foi a Glasgow School of Art, onde estive duas vezes, uma casa mágica onde apetecia demorar, sentar no chão, subir às águas furtadas ... e ardeu. Ardeu tudo, há anos, dois incêndios consecutivos, foi-se em fumo, ficaram cinzas e as minhas fotos. Nunca mais voltará ao que era, por mais restauros que façam. Mas não tinha flores de amendoeira na Primavera. Abraço!
ResponderEliminarDesculpe, Inês, o 'Anónimo' sou eu.
ResponderEliminar