quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Dançar no escuro

Lisboa | Dezembro 2016


Danço sozinha, por dentro, ao descer a Avenida da Liberdade em época de Natal. Danço sozinha, deixei para trás quem pesa, sabendo que espera por mim do outro lado do rio quem me dá calor de aconchego e céus abertos. Danço e canto na minha cabeça porque os dias minguam, mas vem aí a Luz, e porque mesmo os néons frios que agora tentam passar por luzes de Natal não diminuem o calor próprio de Dezembro e dos presépios que já não se vêm na rua mas vivem, cada ano um pouco maiores, na minha sala, em tantas salas, e na capela onde volto sempre como a casa. Danço no meu reflexo que me segue de vitrine em vitrine, onde se notam já as primeiras marcas da idade e do desencanto, mas também a luz de cada recomeço e reencontro. A chegar aos trinta e três, vinda de uma família onde as mulheres envelhecem muito cedo, uso o baton como uma arma porque o encanto não chega, mas olho-me nos olhos e vejo uma centelha que há muitos anos não via. Danço sozinha, por dentro, ao descer a Avenida.

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