quarta-feira, 20 de abril de 2016

A opressão do sucessivo

"Como pude não sentir que a eternidade, ansiada com amor por tantos poetas, é um artifício esplêndido que nos livra, embora de maneira fugaz, da intolerável opressão do sucessivo?"

Jorge Luis Borges, no prólogo de História da Eternidade

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Império (ao Largo de São Carlos)

Lisboa | Março 2007



É tempo de voltar a empurrar as portas mal fechadas em prédios antigos, de procurar a luz das clarabóias no último andar, de me colar às paredes antigas, numa ânsia de significado que nos transfigure. De procurar as raízes imaginárias e de me efabular.

A Severa (Linda Martini)

Raízes Imaginárias

Procuro
raízes imaginárias
que me liguem definitivamente
às cidades invisíveis
que só sei habitar de vez em quando,
que fixem no espelho
a prata que me foge do corpo
assim que admito que este perfume
também me pouse na pele.
A Severa,
com o seu manto azul-arroxeado,
só por vezes me permite que a siga
nos labirintos criadores que fervilham no mistério
das coisas,
e eu perco-me ainda, quando só,
até nas dores quotidianas, mães da mais elementar
criação poética.
Procuro então raízes imaginárias
que evitem o exílio
quando o peso dos dias
e das ruas vazias de significado
torna mais difícil
gravar pássaros na pele
e andar pelos bairros velhos em dias de chuva.
Houvesse nas minhas páginas
e nos meus passos
as mesmas aguarelas
de verdades e poesia e cidades reveladas
que sempre só quase vejo.