A casa no infinito
no conhecimento instintivo
das imagens iniciais,
sem medo da beleza
que homens sábios e tolos
dizem ser terrível,
proíbe uma casa confortável
na linguagem.
Poucas distâncias serão
tão longas como a que vai
do corpo no mar ou no fogo
à língua encerada dos homens.
Sabias que “fogo grego”
não é o nome original dessa
substância de clarão e mito
a que os Bizantinos
chamaram também
pŷr thalássion: fogo do mar?
É disto que falo, de uma civilização
que acredita nas possibilidades da poesia,
quando nenhuma derivação explicativa
poder ser mais iluminante, mais bela,
mais justa, que dizer “fogo marítimo”
e deixar, depois, que o silêncio reine.
E no entanto também eu defendo
este abrigo com devoção e fúria,
esta arquitectura de labirintos e clarões
alicerçada na pulsão dos desejos
e no desejo sensível da lucidez,
e não sei que fazer da suspeita
de que, por vezes, a linguagem
é uma traição às imagens que
primeiro fundaram o instinto poético,
um vício de excesso interpretativo,
uma danação de espelhos.
E no entanto também eu procuro
a textura áspera e consoladora
sob a mão que desliza no papel;
tão real como o fogo ou o mar
que não sei se assim traio ou repercuto
nos ossos, na pele, no instinto
desse mundo inicial que não sei
se me pede silêncio ou iluminação.